Historicamente,
o Brasil enfrenta uma situação insustentável de fracasso escolar,
traduzido pela não aprendizagem da leitura e da escrita pelas crianças.
Se na década de 1970 esse fracasso atingia cerca de 56% das crianças que
iniciavam o 1º. Grau, atualmente há que se denunciar a persistência de,
ainda, 19,5% de evasão e repetência escolar, fato que expressa uma
enorme inadequação entre a demanda e a qualidade da oferta,
caracterizando nossa escola como muito excludente. As tentativas de
respostas a essa situação sempre foram atravessadas por um processo de
culpabilização: ora são os professores os culpados, ora os pais e sua
situação sócio, econômica e cultural, ora os alunos são
responsabilizados por seu insucesso. Neste contexto, usa-se e abusa-se
da expressão “dificuldades de aprendizagem”, colocando-se sobre os
ombros da criança uma imensa carga negativa. Do lugar, inicialmente, de
psicóloga, Elisângela tomou a decisão de apurar seu olhar para os
processos de encaminhamento ao apoio pedagógico de crianças que,
supostamente, não aprendem. Adentrou
a escola, escrutinou a cultura escolar, observou práticas pedagógicas,
constatou concepções discrepantes, escutou professores e alunos, mediou
relações, transformou-se em pesquisadora da educação. Alunos
indicados para o apoio, carregados de estigma como crianças com
problemas emocionais, dispersas, desligadas, estranhas, inseguras e que
não gostam e não aprendem a ler e a escrever, ao final do processo
tiveram desempenho superior aos das não indicadas. Assim, o texto "Leitura e escrita no contexto escolar contemporâneo"
inverte a lógica perversa de mútuas acusações e descortina a
complexidade do processo educacional no mundo contemporâneo, tornando-se
leitura obrigatória, em especial, para professores, psicólogos e
formadores de professores.
Dra. Cancionila Janzkovski Cardo